Sequestro de jogadores no campo
Fato histórico no rádio esportivo de Cuiabá em 1974: pela primeira vez em suas histórias as Rádios A Voz do Oeste e Difusora Bom Jesus de Cuiabá iam transmitir um jogo oficial do Campeonato Mato-grossense de Futebol – o clássico entre União e Operário, de Várzea Grande, no Luthero Lopes, de Rondonópolis. Nos bastidores do rádio, uma batalha à parte entre as equipes esportivas das duas emissoras para ver quem levava a melhor na guerra da audiência.

À época, as condições técnicas para uma transmissão externa eram precárias, pois as emissoras de rádio, principalmente do interior do Brasil, não tinham os recursos de que dispõem hoje. Nem em sonho. Os radialistas e técnicos de som tinham que ser ousados e criativos para superar as dificuldades e levar ao ouvinte um trabalho de qualidade.
Na luta pela audiência, aparentemente A Voz do Oeste saiu na frente. Muito amigo de Carmelito Torres, presidente da Cemat, Lino Pinheiro, que foi fazer a transmissão em Rondonópolis junto com o locutor Ademir Rodrigues, conseguiu autorização para usar uma kombi bem equipada que a empresa mantinha no interior do Luthero Lopes a fim de atender eventuais emergências, para fazer a transmissão chegar perfeita ao estúdio em Cuiabá, através de um amplificador de som do veículo.
Uma ideia genial, sem dúvida! Mas na hora do vamos ver, o teste não deu certo. Início do jogo se aproximando, Ademir Rodrigues deixou o repórter de pista Lino Pinheiro no estádio, pegou seus equipamentos e se mandou para a sede da Cemat, nas imediações, onde improvisou um “estúdio” para dublar o locutor Jota Barreto, dono da Rádio Clube, de Rondonópolis, e fazer o som de A Voz do Oeste chegar a Cuiabá com uma qualidade suficientemente boa para deixar o pessoal da concorrente Bom Jesus de Cuiabá puto da vida…
Terminado o jogo, vencido pelo Operário por 2×0, gols de Gilson Lira, os repórteres de campo partiram para as entrevistas com os principais jogadores dos dois times, mas não encontraram ninguém. É que Lino Pinheiro, conforme havia combinado com eles no intervalo do jogo, havia colocado uns dez jogadores dentro da kombi e levado o grupo para o escritório da Cemat para entrevistá-los como se estivessem ainda no campo…
– Foi muito engraçado ver aquele bando de homens, uns vestidos, outros seminus, descalços, invadindo o escritório da Cemat junto com o Lino Pinheiro – recorda, dando gargalhadas, Ademir Rodrigues.
PS – Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino
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