A loucura pelo poder nas prefeituras
Poder. Essa palavrinha parece ser mágica em boa parte dos meios políticos. E além da magia ela literalmente ainda carrega a chave do cofre onde a prefeitura guarda o dinheiro do contribuinte, dando ao prefeito a condição de ordenador de despesas de alguns orçamentos com cifras elevadas. Em busca do poder, políticos tentam por todos os meios reverterem decisões judiciais que os deixam inelegíveis; desqualificam fatos reais e denúncias; lançam mão de parentes e amigos para serem candidatos, quando não podem concorrer; e enfim, correndo atrás do voto promovem espetáculos dignos de picadeiro.
Disputar prefeitura sub judice ou à véspera de condenação pode resultar em cassação do eleito, tão logo seja condenado. Isso, prejudica a administração. Em Mato Grosso, foram cassados ou por improbidade ou crimes eleitorais, oito dos 141 prefeitos eleitos em 2016; a eleição em Conquista D’Oeste foi anulada e em pleito suplementar Maria Lúcia Porto (PSB) se elegeu prefeita.
Foram cassados os prefeitos Luciane Bezerra (PV), de Juara; Angelina Benedita (PSDB), de Planalto da Serra; Getúlio Viana (PSB), de Primavera do Leste; Elias Mendes Leal (PSD), de Mirassol D’Oeste; Reynaldo Diniz (PL), de Ribeirão Cascalheira; Joel Ferreira (PSDB), de Bom Jesus do Araguaia; Edvaldo Alves dos Santos (PSB), de Lambari D’Oeste; e Jonas Canarinho (PSL), de Aripuanã.

Aleatoriamente o site cita exemplos de chapas a prefeito que sofrem contratempos, mas cujos candidatos não abrem mão delas. Também focaliza jogadas por meio de parente de cacique político ou alguém de seu círculo de relacionamento, para não perderem o poder. Cita ainda o desmantelamento da chapa do candidato ao Senado José Medeiros (Podemos).
Medeiros é um dos candidatos ´à cadeira aberta com a casssação de senadora Selma Arruda (Podemos) e seus suplentes Beto Possamai e Clérie Fabiana (ambos do PSL), por crimes de abuso de poder e caixa 2.
Nomeado senador biônico até a posse do nome que será eleito em 15 de novembro, Carlos Fávaro (PSD) exerce o cargo ao mesmo tempo em que tenta se eleger pelo voto direto.
Em vários municípios não citados nesta reportagem há situações semelhantes com as que ora são exibidas. Ao longo da campanha blogdoeduardogomes voltará a esse tema, focalizando outras lutas pelo poder.

ACORIZAL – Meraldo Sá (PSD) foi vereador e duas vezes consecutrivas prefeito de Acorizal. Conquistou suplência de deputado estadual e exerceu o cargo por um curto período. Em parte do governo de Silval Barbosa integrou seu secretariado à frente da Secretaria de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar. É liderado pelo senador biônico Carlos Fávaro (PSD) e integra o chamado grupo das Viúvas Políticas de Riva – Riva é José Riva, que durante 20 anos foi mandachuva na Assembleia Legislativa. Mesmo acumulando condenações que o tornam inelegível, Meraldo insiste em novamente ser prefeito de seu município.
Em setembro, Meraldo tentou uma espécie de salvo-conduto junto ao Tribunal de Justiça, que lhe assegurasse direito de disputar a eleição em novembro, mas a desembargadora Maria Aparecida Ribeiro lhe deu um fundamentado não. Ainda assim, o partido de Fávaro homologou seu nome ao cargo, tendo na composição da chapa o correligionário vereador e presidente da Câmara Diego Taques.

CUIABÁ – Patrimônio de R$ 6.982,50 e sobre duas rodas. Melhor ainda: dono de uma moto de combate que nem chega perto das máquinas potentes. A motoca era o único bem do candidato a vereador por Cuiabá, em 2016, Abílio Jacques Brunini Moumer, o Abilinho (PSC). Transcorridos quatro anos, filiado a outro partido, o Podemos, Abilinho adota o nome político de Abílio e se se lançou candidato a prefeito da capital, onde nasceu há 36 anos.
Os bens de Abílio, agora, somam R$ 92,5 mil. Um significativo salto em curto tempo, pra quem tinha uma moto avaliada em R$ 6.982,50, mas, ainda assim, sua situação econômica não aponta para sua competência em vencer na vida. Além de vereador, ele é arquiteto e urbanista, profissão sempre alta no aglomerado urbano de Cuiabá, em razão do crescimento e do fortalecido mercado da construção civil, que consegue superar até mesmo a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
De bolsos vazios Abílio tenta a prefeitura. Se vencer, tem um invejável cargo para exercer por quatro anos. Derrotado terá que buscar trabalho em sua área profissional.
O companheiro de chapa de Abílio é o vereador por Cuiabá, Felipe Wallaton (Cidadania).

BARRA DO GARÇAS – O vereador e médico Paulo Raye (PROS) quer voltar à prefeitura, onde chegou ao se eleger em 1988, mas logo em seguida foi cassado pela Câmara Municipal da Barra, por corrupção.
Raye foi um dos personagens da constrangedora Primeira Feira da Corrupção, promovida no Congresso Nacional. A documentação que levou à sua cassação foi entregue à Feira pelo então vereador Aldemar Guirra, que mais tarde seria secretário de Justiça e Segurança Pública no governo de Dante de Oliveira. Guirra não está mais entre nós.
Raye formou chapa com o advogado Edvaldo Pereira a Silva (PC do B). Edvaldo foi candidato a deputado estadual em 2018 e cravou 5.316 votos.
Transcorridos mais de 30 anos de sua cassação, Raye tenta voltar à prefeitura. A natural volatilização dos fatos com o passar do tempo é aliada de Raye. Somem-se a isso o fato de que boa parte do eleitorado do município sequer era nascida quando ocorreu sua cassação.

POXORÉU – Em Poxoréu, a luta pelo poder não fica restrita ao ex-prefeito Antônio Rodrigues da Silva, o Tonho de Menino Velho. Inelegível, Tonho de Menino Velho lançou sua mulher, Cynthia Pereira Carneiro (MDB) candidata a prefeita numa chapa que se completa com Wilson Gia (PSD).
Tonho de Menino Velho, funcionário do Banco do Brasil, foi prefeito em 2000 e se reelegeu. Acumulando processos e condenações se tornou inelegível, mas mesmo assim em 2016 se lançou à prefeitura, mas sua candidatura foi impugnada. Ligado ao cacique Carlos Bezerra (MDB) e ao seu grupo, Tonho de Menino Velho se tornou eminência parda do prefeito de Rondonópolis, Zé Carlos do Pátio (SD) e inclusive chefiou o escritório de representação daquele município em Brasília, para articular emendas, abrir espaço em ministérios e órgãos etc.
Cynthia tenta ser a segunda mulher a administrar Poxoréu. Seu adversário é o prefeito Nelson Paim (PD). Antes dela, Jane Sanchez, mulher do ex-prefeito Lindberg Nunes Rocha foi prefeita. O eleitorado sabe que Cynthia representa o marido.

VÁRZEA GRANDE – Controlar uma prefeitura, para alguns, é mais do que o poder político. Não se pode esquecer que, quase sempre, o maior consumidor de bens e serviços no município é a prefeitura.
Várzea Grande é a base eleitoral do clã dos Campos liderado pelo senador Jayme Campos (DEM) seu irmão e correligionário Júlio Campos, que foi governador e senador. Na eleição deste ano a família não pode lançar integrante à disputa municipal, pois a prefeita em segundo mandato, Lucimar Campos (DEM) é mulher de Jayme. Estrategicamente o clã lançou dois nomes na esperança de polarizar a disputa: Kalil Baracat (MDB) e Emanuel Pinheiro (PTB).
Kalil foi vereador e secretário municipal na administração de Lucimar; é neto da ex-prefeita e ex deputada estadual Professora Sarita Baracat, e filho do ex-deputado estadual e ex-vice-prefeito daquele município, Nico Baracat. Seu vice é José Hazama (DEM), que é vice-prefeito de Lucimar.
Emanuel é deputado federal, jovem, nasceu, cresceu e estudou em Cuiabá, onde sua família sempre residiu sendo que seu pai e xará é prefeito da capital pelo MDB e tenta a reeleição.
O domicílio eleitoral do candidato a prefeito de Várzea Grande até recentemente era Cuiabá, por óbvias razões, mas Emanuel o transferiu para aquela cidade, onde providenciou endereço residencial.
Com Kalil e Emanuel, Jayme tem duas opções para continuar no poder. Detalhe: com um Emanuel concorrendo em Várzea Grande e outro em Cuiabá, Mato Grosso pela primeira vez poderá ver a familiocracia do caciquismo político ganhar ares intermunicipais, claro que devidamente compartilhado entre Campos e Pinheiro.

ÁGUA BOA – Ministério Pùblico Eleitoral e oposição fecham o cerco sobre a candidatura do democrata e ex-prefeito Maurício Tonhá (DEM). Na esfera forense é analisada uma ação que Maurício responde por estelionato na Terceira Vara Criminal de Água Boa, desde 5 de março de 2008; essa ação é movida pela Procuradoria Geral de Justiça.
Politicamente adversários lançam mão de um argumento perfeito. Maurício sustenta que se eleito levará empresas para Água Boa. Sua oposição joga por terra essa argumentação com base num fato real. A empresa do candidato democrata, a Estância Bahia, foi criada naquela cidade, mas em junho de 2018, sua sede foi transferida para Cuiabá, para onde se mudou Maurício.
A Estância Bahia era a maior empresa de Água Boa, divulgava o município, além de gerar empregos e contribuir com a receita de impostos. A transferência de sua sede é considerada um grande golpe contra o desenvolvimento da cidade.
Além da ação e da transferência da sede de sua empresa para Cuiabá, críticos de Maurício apresentam a relação de um alto endividamento do mesmo, contraído desde 2016 e anotado pela Serasa Experian tendo por credor o Banco da Amazônia.
Maurício foi funcionário do Banco do Brasil, vereador, presidente da Câmara e duas vezes prefeito de Água Boa, onde também foi derrotado na sua primeira tentativa de se eleger para a prefeitura. É empresário e leiloeiro. Seu companheiro de chapa é o pecuarista Jonathan Silveira (PL).
Somente duas chapas disputam a prefeitura, a de Maurício com apoio do prefeito Mauro Rosa, o Maurão (PSD), e a de oposição encabeçada pelo médico Mariano Kolankiewicz Filho, o Dr. Mariano (MDB) com a atual vice-prefeita Rejane Garcia (PSDB) em sua composição.

JUARA – Priminho Riva (PL), que cumpriu dois mandatos consecutivos de prefeito naquele município no Vale do Arinos está novamente na estrada de olho na prefeitura. Priminho é irmão do ex-prefeito daquele município e ex-mandachuva na Assembleia Legislativa, José Riva – é tio da deputada estadual Janaina Riva (MDB).
Pirminho faz dobradinha com o correligionário Léo Boy, mas o promotor eleitoral da 27ª Zona Eleitoral de Juara, Herbert Dias Ferreira pede a impugnação de sua candidatura. Priminho tem condenações colegiadas pelo Tribunal de Contas da União, por convênios na esfera federal. Também foi condenado no escândalo da Mafia das Ambulâncias ou Sanguessugas – compra superfaturada de ambulâncias da empresa Planam com recursos de emendas parlamentares federais.

RONDONÓPOLIS – A chapa Zé Carlos do Pátio (SD) e Aylon Arruda (PSD) além de enfrentar os adversários ainda tem que se debruçar sobre papelada tentando se defender de pedidos de impugnação.
Zé do Pátio, prefeito que tenta a reeleição, está na mira do Ministério Público Eleitoral que o acusa de ocultação de patrimônio, o que teria resultado na abertura de uma empresa em nome de familiares. Essa manobra, no entendimento do MPE seria para proteger patrimônio em caso de condenação em ações às quais responde por suposta improbidade administrativa.
Além, disso, Zé do Pátio está enrodilhado por ações, denúncias e bloqueios de bens, sendo os últimos, de R$ 282 mil, em 16 de setembro deste ano, determinado pelo juiz Márcio Rogério Martins, da Segunda Vara da Fazenda Pública, por conta do vergonhoso escândalo da contratação de bandas para realização do carnaval popular em 2017 – esse evento se chama Rondofolia, mas a sabedoria popular lhe deu o apelido de Roubofolia. O penúltimo bloqueio é de R$ 4,136 milhões, foi determinado em agosto deste ano a pedido do Ministério Público, que acusa Zé do Pátio e servidores da prefeitura por uma estranha compra de 22 ventiladores pulmonares, que mais tarde se apurou que não eram os equipamentos constantes na nota fiscal de aquisição – isso em plena pandemia do novo coronavírus, como se fosse para enfrentamento desse problema na cidade que tem o terceiro maior número de mortos pelo vírus. O boletim da Secretaria de Estado de Saúde, de 7 deste outubro aponta 305 mortes e 9.290 casos da doença no município.
Por conta da desastrosa compra dos respiradores a Justiça determinou o afastamento da secretária Municipal de Saúde, Izalba Diva de Albuquerque Oliveira. Esse escândalo foi parar na Câmara Municipal, onde a tentativa de criação de uma CPI para apurá-lo esbarrou na força de Zé do Pátio que recebeu blindagem da maioria que o apoia naquele legislativo.
Aylon, empresário, produtor rural e dirigente ruralista sofre dois pedidos de impugnação. Ambos mostram que ele não se desincompatibilizou da presidência do Sindicato Rural de Rondonópolis para disputar a vice-prefeitura. No período em que deveria estar fora do sindicato ele concedeu entrevistas na condição de seu dirigente, além de manter seu nome enquanto presidente no site do Sindicato.
Fonte segura revela que o presidente regional do PSD e seandor biônico Carlos Fávaro já teria escolhido um nome para suceder Aylon caso o mesmo seja degolado. Essa escolha, claro, jamais seria feita sem a bênção do empresário Eraí Maggi Scheffer, o discreto benemérito de Zé do Pátio.

SENADO – Candidato ao Senado na eleição suplementar, o deputado federal José Medeiros (Podemos) se sustenta no cargo na Câmara pela força de uma liminar. Em 31 de julho de 2018 o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cassou seu mandato e o tornou inelegível por oito anos, por decisão unânime, mas 13 dias depois uma liminar do ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Napoleão Nunes Maia suspendeu a decisão do TRE e o caso voltou a hibernar. Com a liminar debaixo do braço Medeiros quer ser senador.
A cassação de Medeiros é resultado da ação que apurou uma fraude na ata da convenção do PDT e partidos coligados ao Senado em 2010, A chapa era encabeçada por Pedro Taques (PDT) e um de seus suplentes era Zeca Viana (PDT), que abandonou o barco sendo substituído por Medeiros (PPS).
O episódio da troca de suplentes e as consequências que virão quando do julgamento do mérito da ação pelo TSE não abalaram Medeiros. Tanto assim, que ele lançou numa de suas suplências seu servidor comissionado e correligionário Benedito Lucas de Miranda, o Dito Lucas. Acontece que Dito Lucas não se desincompatibilizou do cargo e entrou na campanha, o que acendeu as luzes do Ministério Público Eleitoral e de adversários. Diante dessa mancada, o deputado lhe deu bilhete azul e agora corre atrás de um nome para completar sua chapa, que se completa com a segunda suplente, a coronel aposentada da Polícia Militar, Zózima Dias dos Santos (Podemos).
Sites cuiabanos citam que o novo suplente será escolhido no Nortão. Claro que essa informação não especula sobre a possibilidade que o nome seja o do empresário Paulo Fiúza, residente em Sinop, a principal cidade daquela região, e que em 2010 foi um dos suplentes de Taques. Fiúza moveu a ação que resultou na cassação do mandato de Medeiros, na ação que agora hiberna no TSE.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1, 2, 3, 4, 6, 8 e 11 – blogdoeduardogomes
5 – Câmara Municipal de Cuiabá
7 – Tribunal Regional Eleitoral
9 – Assessoria de campanha de Maurício Tonhá
10 – Site www.showdenoticias.com.br – Juara
12 – Rede social de Dito Lucas
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