Boa Midia

MT – (Quase) Um novo município no reino do etanol de milho

Boa Esperança do Norte
Boa Esperança do Norte é município sem ser. Repete a situação da Viúva Porcina, personagem de um folhetim de novela da Globo – Foi sem ter sido. Desde 2000 a Justiça não consegue julgar a ação que emancipou aquela vila, que tem parte pertencente a Sorriso e parte a Nova Ubiratã e que se situa numa região onde Mato Grosso produz boa parte do seu etanol de milho.

Em 9 de junho o Tribunal Regional Eleitoral decidiu que haveria eleição neste ano para prefeito, vice e vereadores em Boa Esperança. Neste agosto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) jogou uma pá de cal sobre o assunto e nada muda. A localidade continua à espera de uma decisão, que quando ocorrer o transformará no 142º município mato-grossense.

Para o TSE, há vícios na emancipação de Boa Esperança. Ao fundamentar a decisão de mantê-lo enquanto vila ou distrito que é nome mais pomposo, o tribunal apontou uma anomalia: o fato de a população ser inferior a 4 mil habitantes, que é uma das imposições para a emanciapação. A anomalia salta aos olhos quando se sabe que o lugar tem 3.054 eleitores, o que se traduziria num número de residentes bem superior ao mínimo necessãrio.

A lei que criou Boa Esperança é de 29 de março de 2000 e seu autor foi o deputado Nico Baracat (PMDB). O governador Dante de Oliveira a sancionou; Baracat e Dante faleceram. O questionamento sobre ela aconteceu por falha na realização do plebiscito, que não ouviu moradores de Nova Ubiratã.

Quando ocorrer a emancipação será duro golpe para Sorriso, o sexto maior município mato-grossense e que tem 90.313 habitantes. A redução populacional com o desmembramento implicará na queda das transferências constitucionais. Caberá ao Tribunal de Contas da União refazer os cálculos para o rateio dos fundos aos municípios mato-grossenses, mas isso, somente após a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão definir a área territorial e o IBGE apurar a população da nova unidade municipal.

Sem Boa Esperança, Sorriso perde a condição de maior produtor mundial de soja e também desce do primeiro lugar no ranking dos municípios mato-grossense exportadores: no ano passado seu volume exportado alcançou US$ 1,8 bilhão (FOB), o equivalente a 11,9% das vendas internacionais de Mato Grosso no período. Sapezal deverá assumir a condição de campeão agrícola e Rondonópolis se torna o líder exportador.

FOTO: Prefeitura de Sorriso

 

Berço do etanol  de milho brasileiro

 

Inpasa em Nova Mutum

A região recebeu a primeira usina de etanol de milho do Brasil

Mato Grosso lidera a produção nacional de etanol de milho com 2,05  bilhões de litros anuais. Parte dessa conquista se deve ao Nortão, que tem usinas em Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Sorriso e Sinop. A oferta do produto aumentará nos próxmos meses, quando entrar em operação mais uma usina em Sinop.

Recentemente Nova Mutum inaugurou mais uma usina. Com ela o Brasil chega a 16 usinas de etanol de milho puro (full), sem considerar as plantas que o produzem a partir da cana-de-açúcar, segundo o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco.

Em Lucas do Rio Verde a FS Bioenergia, resultante da união da americana Summit Agricultural Group com a luverdense Fiagril, produz 240 milhões de litros de etanol de milho anualmente. Essa usina inaugurada em agosto de 2017 é  pioneira no Brasil na produção daquele combustível limpo tendo o cereal como matéria-prima.

Com a entrada em produção em Nova Mutum, a Inpasa Agroindustrial  ganha capacidade para desovar anualmente 900 milhões de litros considerando sua produção naquela e na cidade de Sinop. 

Em Mato Grosso, onde tudo no agronegócio é superlativo, ocorre a diversificação de matrizes na verticalização ou agroindustrialização da produção. Com isso, a cana deixou de ser matéria-prima exclusiva para produção do etanol, e o milho entrou em cena. O Nortão, que em média responde por um terço de tudo que se produz no campo no Estado, no quesito etanol de milho, supera essa marca tradicional, mas os números cristalizados somente serão conhecidos depois que o funcionamento da Inpasa em Nova Mutum estiver definido na pática, 

FS Bioenergia em Lucas do Rio Verde

.O diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras (Sindalcool), Jorge do Santos, estima que o processamento dos grãos deverá subir de 2,9 mi/t alcançados na safra anterior para 5,9 mi/t. 

Números do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja), Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Conab e IBGE estampam a realidade do cereal em Mato Grosso: produção no macro e consumo interno modesto.

O novo queridinho do agro

Na safra passada de 34 mi/t e as granjas suínas e de aves compraram cerca de 4,2 mi/t. O desequilíbrio da balança produção-demanda interna, nos últimos anos, foi amenizado com a entrada em cena do DDG. Mas a manutenção e ampliação dos caminhos em busca de novos mercados regulares, confiáveis e perenes ainda desafiam por conta a precariedade da logística de transporte e da forte concorrência dos Estados Unidos que lideram mundialmente esse mercado em suas pontas – no campo e nas usinas. Esse desequilíbrio tende a desaparecer com o novo nicho de mercado. O etanol de milho, o óleo do cereal, o DDG e a geração de energia elétrica mudam o cenário.

Com o etanol Mato Grosso aumenta consideravelmente sua capacidade de transformar proteína vegetal em proteína animal. Contribui para o abastecimento da frota leve com combustível não poluente e entra de sola na geração de energia elétrica. Para se avaliar o significado da matriz energética a partir do milho, em Lucas do Rio Verde, a FS Bioenergia gera 130 megawatts, energia suficiente para atender uma cidade do tamanho de Alta Floresta.

DDG é uma sigla em inglês, que significa grãos secos por destilação. Trata-se de um concentrado proteico extraído no processo de produção do etanol de milho. A inclusão do milho enquanto matéria-prima para o etanol cria alternativa econômica para o consumo do excedente encalhado das lavouras.

FOTOS:

1 e 2 – Divulgação

3 – José Medeiros

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