Guerra nos Himalaias e caos em Mato Grosso
Basta o disparo de um míssil para o caos econômico se instalar em Mato Grosso. Ou como uma guerra no topo do mundo, entre China e Índia quebraria o agronegócio mato-grossense

Em outubro de 1962 quando o mundo voltava as atenções à crise dos mísseis em Cuba, que botava com o dedo no gatilho os Estados Unidos de John Kennedy e a União Soviética de Nikita Khrushchev, a China sorrateiramente invadiu uma faixa fronteiriça com a India e depois de duas semanas em guerra, a humilhou militarmente. Estava em curso o expancionismo de Pequim. Transcorridos 58 anos, com a humanidade em pânico por conta da pandemia do coronavírus, os gatilhos estão com Xi Jinping, em Pequim, e Narendra Modi, em Nova Delhi. Os dois líderes, à frente dos maiores exércitos do mundo e com arsenais nucleares, podem até não destruir o planeta, mas contribuiriam muito para tanto, desde que botem suas máquinas de guerra em ação. O mundo resistirá a um conflito entre os dois países mais populosos, mas a economia mato-grossense entraria em colapso – muito embora isso perca o sentido diante da tragédia humana que aconteceria.

Chineses e indianos disputam o controle da inóspita e acidentada região dos Himalaias, que é estratégica para ambos. A Índia derrotada ontem, agora é potência nuclear e tem um aparato de guerra convencional, que pode até ser novamente batido, mas que deixaria a China de tal modo em frangalhos que a mesma não teria motivo para comemoração.
No ano passado, a China respondeu por mais de 60% do destino da soja mato-grossense exportada. Também no leque da pauta agrícola, mineral, extrativista e agroindustrial de exportação, a carne bovina e suína, frango, farelo de soja, milho, madeira, ouro e algodão para chineses, indianos, sul-coreanos, japoneses, malaios, vietnamitas, filipinos, iranianos e outros povos que estariam na linha de frente ou próximos a ela em caso de guerra envolvendo as duas grandes nações.
O arsenal nuclear dos dois jamais seria empregado na faixa em disputa. Ambos os lados sabem que um ataque nessa natureza na fronteira teria efeito radioativo tanto pra quem o sofre quanto pra seu autor. Portanto, pela lógica, numa área de 350 a 400 quilômetros da linha com 3.440 quilômetros que os separa, a guerra será convencional, mas sem prejuízo a bombardeio, lançamento de mísseis e ataques aéreos com bombas de hidrogênio em regiões mais afastadas.
Uma guerra naquela que é considerada a região topo do mundo, possívelmente envolveria o Vietnã, Filipinas e Malásia ao lado da Índia, pois todos têm algo em comum: disputa territorial com Pequim e nó expansionista mandarim no Mar do Sul da China.
O mundo conhece ataque atômico, pois o Japão sofreu dois, em 1945, quando foram destruídas as cidades de Hiroshima e Nagasaki, pelos Estados Unidos. Mas, ningúem seria capaz de avaliar o que aconteceria se no auge de uma guerra as duas partes usassem seus poderios nucleares.
Enquanto a fronteira nos Himalaias for somente foco de tensão, a economia mato-grossense não será sequer arranhada. Porém, se as armas substituírem a diplomacia, Mato Grosso sofrerá um colapso econômico e social sem precedentes. Pois, além dos países diretamente envolvidos, o conflito criaria uma teia de nações que seriam duramente atingidas economicamente, além de serem vítimas da inevitável radiação nuclear.

O conflito na Ásia teria duras consequências para a economia mundial. Quem pensa que em nome desse desdobramento as superpotências fora da linha de fogo poderiam tentar botar panos quentes, se engana. Estados Unidos e Rússia secundados por ingleses, franceses, norte-coreanos, israelenses e paquistaneses pagariam caro pra ver combate entre duas potências militares nuclearizadas. Pagariam não somente para lucrarem vendendo armas, mas também pra aprenderem na prática, o que a teoria lhes sugere que sabem.
A contrário do Brasil, onde os novos sábios que nasceram nas redes sociais resolvem tudo e mais um pouco misturando acidez com irreverência, apontando o dedo e escondendo o rabo e exercendo a falsa cidadania no mundo virtual, os arqui-inimigos nos Himalaias guardam rancores uns dos outros. Na Índia multidões vão às ruas contra a China. No outro país a ditadura comunista proíbe manifestações, mas o Partido Comunista se encarrega de deixar o vizinho na mira de seu arsenal.
Pelas vidas dos povos envolvidos, e também em defesa nações que sofreriam com a radiação peçamos a Deus pela paz. Mas, se a guerra eclodir voltemos nossos pedidos por Mato Grosso, pois não haverá mercado internacional para os produtos da agricultura, pecuária e agroindustria nesta terra onde muitos se sentem chineses e olham os produtores como se fossem indianos ou vice-versa.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Sputnik Brasil
2 e 3 – BBC News Brasil
4 – Arquivo blogdoeduardogomes
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