VULTOS DE MATO GROSSO – José Riva

Nenhum político concentrou tanto poder em Mato Grosso quanto José Riva. Por duas décadas a Assembleia Legislativa rezou por sua cartilha. Ao longo desse período os governadores engrossaram a fila do beija-mão a Riva. A bancada federal nunca assumiu posicionamento que chocasse com ele. AMM e UCMMAT, que são as associações dos prefeitos e vereadores, respectivamente, eram verdadeiras extensões de seu gabinete. Entidades de classe de servidores, patronais e de trabalhadores na iniciativa privada, mesmo se dirigidas por seus críticos, sempre buscavam seu apadrinhamento quando se sentiam prejudicadas ou reivindicavam algo. A força representativa dele chegou ao fim. Do poder quase ilimitado não resta nada. Por várias vezes foi preso. Com essa mistura de currículo e ficha corrida cumprirá 2 anos de prisão domiciliar e ao fim desse período será cidadão sem débito com a Justiça.
Riva foi um dos principais líderes políticos de Mato Grosso desde 1998, quando foi eleito o deputado estadual mais votado em seu Estado e nunca mais deixou essa condição. Paralelamente a isso, também carregava o incômodo título de parlamentar mais denunciado pelo Ministério Público e mais processado do Brasil. Quanto à pecha, Riva sempre a desqualificou. Dizia que o MP tratou de pulverizar uma ação em várias e que repetiu essa prática em todos os casos de supostas irregularidades entre a Assembleia e fornecedores.

Capixaba de Guaçuí, nascido em 8 de abril de 1959, José Geraldo Riva, comemora aniversário juntamente com Cuiabá, cidade fundada pelo bandeirante paulista Moreira Cabral 140 anos antes de seu nascimento.

Ainda criança Riva foi em busca de dias melhores no Paraná. Em 1979, com o diploma de técnico em Contabilidade debaixo dos braços, mudou-se para Juara, município na calha do rio Arinos e que dava seus primeiros passos. A profissão era conhecida como guarda-livros. Riva se orgulha dela e conta que sua família era muito pobre. Seu pai, Dauri Riva, reuniu os filhos, e sem alternativa, pediu que eles escolhessem um para continuar os estudos, porque não poderia pagar escola para todos. A decisão dos irmãos foi unânime: “Vai o Zezé, que é mais danado”. Habilidoso e considerado letrado para a época, ganhou a confiança da população de Juara e, em 1982, três anos depois de desembarcar naquela cidade, se elegeu prefeito pelo nanico PMN. Não é preciso explicar quem é o Zezé.

Riva assumiu a prefeitura de um lugar totalmente desconhecido até mesmo em Mato Grosso. Ele sabia que se não divulgasse Juara seu desenvolvimento seria lento e difícil. Como se fosse caixeiro-viajante percorreu o Paraná vendendo a boa imagem de sua nova terra. A política promocional apresentou bom resultado e em pouco tempo sua cidade ganhou título de realeza: virou Rainha do Café.
No começo de 1989 o mandato de Riva na prefeitura chegou ao fim. No ano seguinte, se lançou a deputado estadual com apoio de caciques políticos, que não apostavam naquela aventura. A região de Juara tinha pequeno eleitorado e sua candidatura serviria apenas para somar voto à coligação de seu PMN.

A previsão do grupo foi apenas parte do desfecho da eleição de 1990. Riva empatou em número de votos com Homero Pereira, do PRN coligado ao PMN. O desempate pela primeira suplência seria por idade. Homero era mais velho: nasceu em 25 de maio de 1955. Riva, nascido em 8 de abril de 1959 viu Homero assumir uma cadeira mais tarde.
Homero Alves Pereira assumiu uma cadeira na Assembleia em parte da legislatura. Depois foi presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Famato) e deputado federal. Morreu em 20 de outubro de 2013, vítima de um câncer, no exercício do mandato, na Câmara dos Deputados,

A fase política adversa de Riva se estendeu a 1992, quando disputou e perdeu a eleição para prefeito de Juara. Nem mesmo a coleção de tropeços em pouco tempo o desanimou e, em 1994, estava novamente nos palanques pedindo apoio para deputado pelo PMN. Naquele ano conseguiu chegar à Assembleia, com 8.090 votos. Começava assim sua ligação umbilical com o Parlamento mato-grossense.
Em 1998 Riva foi o candidato a deputado estadual mais votado, com 29.776 votos. Repetiu essa condição em 2002, com 65.389 votos; em 2006, com 82.799 votos; e em 2010, com 93.594 votos.

Plenário sempre foi território estranho pra Riva. Desde sua posse, em fevereiro de 1995, por cinco vezes presidiu e por duas foi primeiro-secretário da Assembleia. Nesse período enfrentou contratempos. Na legislatura de 2007 a 2010 foi afastado da presidência e posteriormente teve o mandato cassado por decisão unânime do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por crime de compra de votos na eleição de 2006, no município de Santo Antônio de Leverger. Cassado, se candidatou a deputado estadual em 2010 e, mesmo fora do poder, foi novamente campeão de votos ao cargo.No longo período na Assembleia Riva trocou de partido algumas vezes: saiu do PMN para o PSDB, deste para o PP e liderou a criação do PSD em Mato Grosso.
Riva foi o deputado mais atuante e o que mais apresentou projetos e indicações. À época, sua assessoria revelou que ele foi autor de 450 leis e indicações importantes.
Na legislatura de 2011 a 2014 Riva também foi afastado da presidência por decisão judicial. Primeiro foi mantido na função, mas impedido de administrar a Assembleia; Romoaldo Júnior (PMDB) o substituiu. Depois foi destituído do cargo de presidente, mas conseguiu reverter a situação.
O momento mais crítico de Riva aconteceu em 20 de maio de 2014, quando foi preso, em Cuiabá, pela Polícia Federal, no desenrolar da Operação Ararath, que (ainda) apura lavagem de dinheiro, agiotagem e outros crimes. Levado para a Penitenciária da Papuda, em Brasília, o deputado foi solto três dias depois. Tanto a prisão quanto a soltura foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Riva protestou contra a prisão, que definiu como arbitrária. Ao decidir pela liberdade do parlamentar, Dias Toffoli admitiu que foi induzido pelo Ministério Público ao erro na decretação (da prisão), pois a papelada que chegou às suas mãos omitia o fato de Riva ser deputado e estar em pleno exercício do mandato.
Em 2014 Riva anunciou que disputaria o governo, mas foi alcançado pela Lei Ficha Limpa. Inelegível, lançou a mulher, Janete Riva (PSD), que teve pífio desempenho nas urnas. Janete encabeçou uma chapa com o médico Aray Fonseca de vice e recebeu 144.440 votos (9,92%). O vencedor, em primeiro turno, foi Pedro Taques (PDT) e o segundo colocado foi o petista Lúdio Cabral. Antes dessa eleição, em 2002, Janete foi candidata a vice-governadora numa chapa tucana encabeçada pelo então senador Antero Paes de Barros, e que foi vencida em primeiro turno por Blairo Maggi (PPS).
Passou

Riva passou. Enfrentou um mar de ações que nem ele mesmo sabia quantas eram. Por algum tempo virou sinônimo de corrupto, mas essa pecha cada dia se dilui mais, na medida em que operações do MP, da Polícia Federal e da Delegacia Fazendária revelam as entranhas políticas mato-grossenses e nacionais.
Durante o longo período em que foi investigado e denunciado pelo MP Riva não demonstrou nervosismo. Calmo, sereno, administrava a tormenta em que se meteu.
Durante seu ciclo de poder Riva teve a Imprensa nas mãos. Derramava dinheirama na Comunicação. Dizem que por dentro e por fora.
Em 10 de março de 2016 a Polícia Federal apreendeu na casa de Riva uma lista com 107 nomes de jornais, sites, televisões, revistas, emissoras de rádio e jornalistas que, segundo a PF, receberiam por fora para blindagem de seu esquema.
Com tantas figuras da Comunicação envolvidas com Riva não é difícil imaginar qual tratamento editorial recebia no seu ciclo de poder. Não somente jornalistas o cortejavam. Até o Banco do Brasil, referência de instituição séria, dobrou os joelhos para ele. Quando da construção da atual sede da Assembleia, Riva canalizava seu rechonchudo duodécimo para a obra – para quitar a folha salarial o bondoso BB fazia CDC para os servidores da Assembleia, e Riva ao fio imaginário do bigode garantia a transação.
Vale observar que a parceria Riva/BB acontecia quando o mandachuva não conseguia viabilizar recursos com a agiotagem. O ex-bicheiro Comendador João Arcanjo Ribeiro, que era dono de factorings e explorava cassinos e o jogo do bicho em Mato Grosso. descontava notas promissórias emitidas por Riva com aval do também deputado Humberto Bosaipo, ambos em nome da Assembleia. Essas notas eram dadas em pagamento a fornecedores do Legislativo. Dezenas desses documentos foram apreendidos no escritório de uma das factorings de Arcanjo, em 2002, quando da Operação Arca de Noé.
Entre o empresariado Riva era o cara. Isso, porque tinha o poder do sim e do não nas obras contratadas pelo governo. Trombar com ele era o mesmo que fazer haraquiri empresarial.

Num depoimento espontâneo à juíza Criminal Selma Rosane de Arruda (mais tarde senadora e na sequência cassada) em 31 de março de 2017, Riva confessou que pagou mensalinho a 33 deputados estaduais e ex-deputados estaduais. Mais tarde esse depoimento foi engrossado com outros cinco nomes, virou delação ao Ministério Público Estadual e Riva foi beneficiado com a homologação de sua tratativa com o MP. Em 20 de fevereiro deste ano o desembargador do Tribunal de Justiça, Marcos Machado, a homologou. Resumo: foi condenado a 4 anos de prisão domiciliar e a devolver R$ 94 milhões. O ex-mandachuva acumula dois anos atrás das grades, o que quebrou sua sentença pela metade. Anteriormente havia devolvido R$ 2 milhões, e agora terá que desembolsar R$ 92 milhões. Na homologação Riva ganhou refresco pra permanecer em liberdade até 2 deste mês de junho, pra que pudesse vender imóveis para integralizar em espécie o montante que lhe foi arbitrado. Não se sabe se conseguiu a proeza de vender algo em plena pandemia. O que se sabe é que em razão do coronavírus a Justiça suspendeu os prazos processuais e ele permanecerá livre, leve e solto por mais algum tempo, embora isso não soe bem, pois aos 60 anos, o recomendável seria seu isolamento domiciliar, que no seu caso específico ainda é reforçado por sentença judicial.
Na delação homologada Riva admite que foram surrupiados R$ 175 milhões da Assembleia entre 1995 e 2014, Há quem questione o montante, por achá-lo modesto para a roubalheira desenfreada que tinha o mandachuva à frente e era compartilhada por dezenas de outras figuras ilustres e outras nem tanto. As ações desdobradas da delação tentarão reaver a dinheirama.

A lista dos delatados não foi divulgada por se tratar de ação em segredo de Justiça, mas fontes ligadas ao caso sustentam que se trata da mesma relação anteriormente informada pelo mandachuva à então juíza Selma Arruda.
Nela, os deputados estaduais Romoaldo Júnior (MDB), Dilmar Dal’Bosco (DEM), Carlos Avalone (PSDB), Sebastião Rezende (PSC) e Nininho (PSD); o prefeito de Cuiabá e ex-deputado estadual Emanuel Pinheiro (MDB); o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e ex-deputado estadual, Guilherme Maluf; o procurador do Estado e ex-deputado estadual Alexandre Cesar; o ex-presidente da Assembleia e ex-governador Silval Barbosa; os ex-deputados estaduais e conselheiros do TCE, Humberto Bosaipo (aposentado) e Sérgio Ricardo (afastado judicialmente); e os ex-deputados estaduais Mauro Mauro Savi, José Domingos Fraga, Walace Guimarães, Percival Muniz, Daltinho, Ademir Brunetto, João Malheiros, Nilson Santos, Gilmar Fabris, Luciane Bezerra, Maksuês Leite, Walter Rabelo e Hermínio Barreto (ambos falecidos), Luiz Marinho, Zeca Viana, Ezequiel Fonseca, Baiano Filho, Teté Bezerra, Luizinho Magalhães, Neldo Weirich, Carlos Azambuja, Chico Galindo, Airton Rondina, Wagner Ramos, Pedro Satélite, Dilceu Dal’Basco e Chica Nunes.
Familiocracia

No auge do poder Riva elegeu seus irmãos Priminho e Paulo Rogério prefeitos de Juara e Tabaporã, respectivamente. Sua filha Janaína Riva cumpre o segundo mandato consecutivo de deputada estadual e carrega o título de campeã de votos para o cargo.
Em 2014 Janaína elegeu-se pelo PSD de seu pai. Agora é liderada pelo cacique Carlos Bezerra, que controla o MDB, seu novo partido. De quebra ela é vice-presidente da Assembleia e se reelegeu para a mesma função por mais dois anos.
Janaina é sócia de uma madeireira investigada pela Operação Lava Jato por suspeita de lavagem de dinheiro por meio de transações que envolveriam o empresário Valdir Piran e o lobista Lúcio Funaro. Janaína e seu irmão José Geraldo Riva Júnior legalmente respondem pela empresa Floresta Viva Exportação de Madeira e Terraplanagem, que seria o pivô das investigações que a envolvem com Piran e Funaro. Segundo Janaína, quem administra a empresa é seu pai,
Nas pegadas de Riva
Em 2 de fevereiro de 2009 arranquei de Riva sua primeira declaração sobre o VLT e com isso garanti a manchte do dia seguinte do Diário de Cuiabá:
Coincidentemente com as vésperas da Copa do Mundo de 2014, mas não em razão dela, Cuiabá buscava uma matriz de transporte para ancorar o sistema existente e que responde pelo vaivém dos passageiros urbanos. Cogitava-se a construção de uma – ou duas – linhas alimentadoras de BRT (sigla em inglês de Bus rapid transit, que em tradução livre significa ònibus de trânsito rápido) nos moldes de outras em operação no Brasil, a exemplo de Goiânia. Na prática seria a criação de um corredor exclusivo para a passagem em dois sentidos de ônibus articulados, que seriam integrados aos que se fazem a ligação bairros-centro.
Políticos, técnicos e jornalistas batiam na tecla do BRT. Batiam. Depois que o então deputado e presidente da Assembleia Legislativa, José Riva, decidiu que a matriz de transporte seria VLT, Cuiabá reviu seu posicionamento e a então quase tricentenária cidade de Moreira Cabral entrou nos imaginários trilhos defendidos por Riva.
VLT era uma sopinha de letras desconhecida em Mato Grosso até a manifestação de Riva. No passado, Júlio Campos sonhou com o mesmo projeto, mas à época não havia tal sigla. Candidato ao governo em 1982, Júlio anunciou que construiria uma linha de trem de superfície em Cuiabá. Em tempos modernos Riva emplacou a ideia do VLT.

A Imprensa sempre foi zelosa com Riva e costumeiramente arredondava sua fala. Em 2 de fevereiro de 2009, uma delegação da CBF veio a Cuiabá com o craque bicampeão do mundo Zito à frente. A visita era para defender a meta da capital mato-grossense em sediar jogos da Copa do Mundo, condição essa que disputava com Campo Grande (MS). Perdido na multidão de jornalistas, ouvi Riva falar ao pé do ouvido de Zito que ele dotaria a cidade com um moderno sistema de transporte: o VLT.
Puxei conversa com Riva. Arranquei dele a manchete política do Diário de Cuiabá no dia seguinte. O deputado revelou que tinha um projeto para construir o VLT e que o apresentaria ao governador Blairo Maggi. Acrescentou detalhes. Os colegas o ouviram sobre outros temas. Tentei reproduzir aqui o conteúdo publicado no Diário, mas o sistema de buscas do jornal está inoperante. Lamentável.
Em outros textos acompanhei a evolução do projeto VLT. Em agosto de 2012, a capa da edição daquele mês da revista MTAqui foi uma grave denúncia sobre propina envolvendo o projeto VLT. O assunto encerrou-se na denúncia. Agora, diante do surgimento da discussão sobre a retomada ou não da obra, avalio que a leitura daquele texto seja interessante e até mesmo esclarecedor para a guinada que jogou o BRT fora da linha de seu concorrente sobre trilhos.
(Manchete da revista MTAqui – agosto 2012)
Um VLT a 80 em Cuiabá

80 não é a velocidade que o VLT desenvolverá: é uma denúncia, que fala em 80 milhões de reais em propina que teriam sido pagos pelo consórcio que construirá esse sistema de transporte
Rowles Magalhães Pereira da Silva era assessor especial do vice-governador Chico Daltro (PSD) e eminência parda do poder até cair em desgraça ao abrir a boca para denunciar que “integrantes do governo estadual” receberam R$ 80 milhões em propina para jogar no colo do Consórcio VLT Cuiabá formado pelas empresas C.R.Almeida, Santa Bárbara, CAF Brasil e Astep Engenharia a obra do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Cuiabá e Várzea Grande, que tem orçamento de R$ 1,477 bilhão.

O agora demitido Rowles disse no dia 14 deste mês, ao portal UOL, que a propina foi paga, mas tirou o corpo fora na hora de dar nome aos bois. Sua denúncia é reforçada por um anúncio de classificados na edição de 18 de abril deste ano no jornal Diário de Cuiabá, que de modo cifrado antecipou o resultado da concorrência. Essa concorrência aconteceu sob Regime Diferenciado de Contratação (RDC), que abre brecha para trambique, porque dispensa uma série de exigências que são feitas às concorrências tradicionais. Rowles disse que os concorrentes do consórcio vencedor participaram da disputa fazendo jogo de cartas marcadas, para serem vencidos.A denúncia de Rowles tem contorno de mea culpa, porque ele sustenta que faz a intermediação para o pagamento da propina, mas o governador Silval Barbosa (PMDB) e seu vice trataram de exonerar o denunciante, num ato publicado na terça-feira, 21, no Diário Oficial. Mais: Silval e Daltro negam com todas as letras, inclusive o V, o L, e o T, qualquer tipo de maracutaia que se possa imaginar. Tanto negam, que o governador mandou o secretário de Segurança Pública, Diógenes Curado, apurar o caso, repetindo o que fez seu antecessor Blairo Maggi (PR), quando do rombo descoberto no final de 2009, de R$ 44 milhões na compra superfaturada de 705 equipamentos rodoviários para o programa MT 100% Equipado, investigação essa que até agora aponta com visível compaixão para o ex-secretário de Infraestrutura, Vilceu Marchetti e que poupa seus pares naquela transação. Curado designou o delegado Gianmarco Paccola Capoani para o caso.
A opção para se fazer o VLT pelo RDC é considerada estranha, porque essa obra não será concluída antes da Copa do Pantanal em 2014 e até mesmo porque esse sistema de transporte exclui de suas rotas a Arena Pantanal, onde acontecerão os jogos, e sequer passa em suas imediações.
A investigação do caso não será restrita à Secretaria de Segurança Pública, pois o Ministério Público Federal também entrou em cena na tentativa de pássaro caso a limpo com um inquérito civil púbico e o Ministério das Cidades – que banca os custos da obra – acendeu todas as luzes amarelas possíveis para saber o que Rowles e seus companheiros aprontaram em Cuiabá.

Além da denúncia do ex-assessor esse caso tem um recheio que merece se investigado. Rowles disse e o governo confirma, que a montagem do edital de licitação foi facilitada porque o Fundo de Investimento Infinity doou ao Estado um estudo sobre a obra, que teria custo no mercado de R$ 14 milhões. Esse estudo na verdade era um projeto de viabilidade técnica e financeira feito pela estatal portuguesa Ferconsult, que atua na área de construção de metrôs de superfícies. Em troca, a Ferconsult ganharia o direito de executar a obra, na clássica oração de São Francisco, mas acontece que em Cuiabá deram rasteira nos portugueses deixando-s de fora da montanha de dinheiro que será derramada para implantação dos trilhos.
A jogada na moita entre o Infinity, a Ferconsult e o governo de Mato Grosso não ficou restrita ao toma lá dá cá do estudo com a obra planejada. O custo do VLT apresentado pela Ferconsult era de R$ 700 milhões, mas estranhamente saltou para R$ 1,477 bilhão. Mais: a Secretaria da Copa (Secopa), que toca o projeto Copa do Pantanal, nunca divulgou uma linha sequer sobre a doação recebida, que em termo financeiros se compara aos R$ 14 milhões que ela se propôs a pagar por 14 jeep Land Rover montados na Rússia – o que se tornou uma dos escândalos entre tanto que pipocam na esfera do governo.
O entendimento do governo de Mato Grosso com a Ferconsult e as bênçãos do Infinity mostrou a desenvoltura de Rowles. Em maio do ano passado, ele liderou um trenzinho da alegria mato-grossense que visitou a cidade do Porto, em Portugal, para conhecer o VLT dos gajos ali construído pela Ferconsult. Dessa viagem participaram algumas das cabeças mais coroadas da política mato-grossense: Silval Barbosa; o presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PSD); o então titular da Secopa, Éder Moraes; e os deputados estaduais Guilherme Maluf (PSDB) e Sérgio Ricardo, que agora é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Todos voltaram da Europa vestindo a camisa do VLT, que até aquele momento era ameaçada por outro sistema de transporte o BRT – Bus Rapid Transit, sigla em inglês de ônibus em corredor expresso – cuja implantação é mais barata no comparativo com o sistema articulado por Rowles.
Mãos à obra

A construção do VLT foi suspensa por liminar do juiz federal Marlon de Souza, no dia 7 deste mês, porque havia denúncias de supostas fraudes em sua papelada. A liminar de Marlon cancelava o contrato de Mato Grosso com o consórcio, proibia o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) repassar recursos para a obra e bloqueava eventuais recursos transferidos pelo BNDES aos construtores do VLT. A decisão do juiz levava em conta a fundamentação do procurador da República, Rodrigo Golívio Pereira, de que haveria ilegalidade por parte do governo ao lançar mão de forma indevida do RDC. No dia 15, após ouvir na véspera o secretário da Secopa, Maurício Guimarães, o juiz federal Julier Sebastião da Silva liberou a retomada da construção.
A obra segue em seus primeiros passos. Quanto a Rowles ninguém sabe onde se encontra, nem se está novamente exercendo sua profissão de advogado. Sua ascensão nos escalões de governo aconteceu depois que ele se mudou de Rondonópolis para Cuiabá. Naquela cidade o homem que acendeu a última fogueira do escândalo nos meios públicos em Mato Grosso foi dono da Clínica Imamed, de diagnóstico de imagem e que atendia exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A Imamed foi fechada pela Vigilância Sanitária que não lhe deu alvará para funcionar em 2010. Seu funcionamento foi conveniado com a prefeitura durante 15 meses, na época em que o município era administrado pelo prefeito Zé Carlos do Pátio – correligionário de Silval Barbosa.
A imprensa mato-grossense, com raras exceções, trata o caso com ressalvas e a Assembleia Legislativa mais uma vez cumpre seu papel de coadjuvante do governo nos bons e maus momentos fazendo boca de siri, até porque, como diriam os manda-chuva da Ferconsult, “não se deve levar a sério o gajo do Rowles”.
Rolo nacional antigo

Acusação de corrupção no VLT de Cuiabá degolou o ministro das cidades Mário Negromonte
Rowles botou o dedo numa ferida no braço, que a classe política em Mato Grosso tenta manter escondida sob a manga da camisa sempre abotoada no punho. Em agosto do ano passado, a revista Veja denunciou que o ministro das Cidades, Mário Negromonte, estaria envolvido numa suposta fraude de documentos para mudar o projeto de matriz do transporte em Cuiabá e Várzea Grande, passando-o do BRT para VLT. A publicação citou as funcionárias daquele ministério, Luiza Gomide de Faria Vianna e Cristina Marina Soja, respectivamente diretora de Mobilidade Urbana e gerente de Projetos de Diretoria, como autoras da fraude.
Para o Ministério das Cidades a fraude para trocar o projeto do BRT pelo VLT consistiu basicamente na mudança de parte do texto de uma nota técnica assinada em 8 de agosto do ano passado, pelo analista de Infraestrutura do Ministério das Cidades, Higor de Oliveira Guerra. Para o governo de Mato Grosso significa afundar numa dívida de R$ 1,477 bilhão junto ao BNDES, mesmo sabendo que o endividamento para o BRT seria de R$ 454 milhões.
Quando o escândalo ganhou repercussão nacional Negromonte criou uma comissão para investigar o que estava por trás do caso. Mas, antes, enquanto as peças ainda eram movidas entre quatro paredes, o então titular da Secopa, Éder Moraes, justificava a proposta de mudança em nome da redução das indenizações dos imóveis nas rotas do VLT. Entusiasmado, Éder falava em “90% de economia” no comparativo entre as indenizações para a opção VLT. Enquanto isso, uma claque era mantida mobilizada e uniformizada em Cuiabá defendendo com unhas e dentes a matriz de transporte ora denunciada por Rowles.
As duas funcionárias conseguiram se manter nos cargos até 9 deste mês, data em que o juiz da 5ª Vara Federal em Brasília, Paulo Ricardo de Souza Cruz, as afastou liminarmente de suas funções acatando pedido do Ministério Público Federal, que as acusa de fraude no caso do VLT
Em 2 de fevereiro deste ano, bem antes do afastamento de Luiza Gomide e Cristina Soja, Negromente caiu. Claro que o bota fora do ministro não levou o rótulo da acusação de corrupção, porque no poder em Brasília essa palavra é abominada. O advogado pernambucano Mário Negromonte Júnior (PP) é deputado federal pela Bahia e retornou à Câmara. Em seu lugar assumiu seu correligionário Aguinaldo Ribeiro.
Um registro histórico
PS – Em fevereiro de 2016 publiquei o livro O SICLO DE FOGO – Biografia não autorizada de Riva, obra modéstia, por falta de conhecimento e até mesmo de competência do autor.
Creio que diante da quantidade de material produzido pela Imprensa cuiabana sobre esse período o livro em nada contribuiu para sua narrativa.
Sugiro que busquem na internet os textos mato-grossenses, dos grandes e combativos jornalistas locais sobre esse ciclo, sobre o qual fiz modéstia abordagem no livro e nesses tópicos ora postados.
Grato,
Eduardo Gomes de Andrade
FOTOS:
1, 2, 3, 6, 7, 8, 11 e 12 – Maurício Barbant
4 – Marcos Lopes – Site público da Assembleia Legislativa
5 – Ronaldo Mazza – Site público da Assembleia Legislativa
9 – Sobre imagem da TV Globo
10 – Fablício Rodrigues – Site público da Assembleia Legislativa
13 – blogdoeduardogomes
14 – Rowles Magalhães
15 – Édson Rodrigues – Site público do Governo de Mato Grosso
16 – Agência Câmara
17 – Capa: Édson Xavier
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