Boa Midia

De inaudível canção do silêncio

Somos povo carente de líderes e ídolos.

Bons tempos os de Juscelino Kubitschek, o JK. Fabulosos os dribles das pernas tortas de Mané Garrincha, do canhão de Rivellino, da genialidade de Pelé. Belas poesias de Braguinha, João Pacífico, Evaldo Gouveia & Jair Amorim, Zé Dantas, Humberto Teixeira, Adoniran Barbosa,  Pixinguinha, Tião Carreiro, Edwina Andrade, Catulo da Paixão Cearense, Goiá, Lupicínio Rodrigues, Mário Lago. Lindas vozes de Maysa, Inezita Barroso, Nelson Gonçalves, Luiz Vieira, Elis Regina, Jair Rodrigues, Luiz Gonzaga, Miltinho.

Onde estão os que nos guiam socialmente e os que nos embalam ao pulsar do coração?

– Sumiram todos!

Em outubro do ano passado, pra retirar o Brasil das mãos da camarilha dita de esquerda, mas na verdade sem formação ideológica, votei no capitão reformado do Exército e deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro. Antes do pleito publiquei artigo no Jornal Diário de Cuiabá justificando minha opção por Bolsonaro, onde deixei claro que não o via no patamar do líder que o país precisava e exigia.

Não participo do debate virtual polarizado travado em Mato Grosso entre os que defendem e aqueles que atacam o presidente. Respeito toda forma de expressão, mas não vejo legitimidade patriótica nem política em nenhuma das correntes. Os defensores, porque fazem de Bolsonaro escudo para criticarem a política instituída pelo ex-presidente Lula da Silva, contra a qual, até recentemente, boa parte das vozes indignadas de agora, permaneceu calada. Os acusadores, porque não reconhecem a roubalheira no triste período de Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer no poder.

Desqualificando ambos os discursos, mantenho distância dos mesmos. Avalio, sem querer ofender a esse ou aquele, que essa fúria verbal virtual funcione como válvula de escape aos que presenciam ou sabem dos males aqui praticados por figurões da vida pública – e contra os quais não podem levantar a voz.

Estamos numa quadra dolorida da vida. O coronavírus nos ronda, adoece e mata.

Presenciamos a abnegação de médicos e paramédicos no enfrentamento da doença. A televisão nos mostra governantes empenhados na luta para sensibilizar a população, que abaixo de Deus é a maior arma contra o vírus que abala a humanidade. O ser humano que é o componente do coletivo social, é quem pode conter o avanço do vírus. O Brasil sofre, chora, resiste e se conforma, mas essa grande nação sente a falta de um líder e estadista à frente dessa verdadeira guerra contra um inimigo sem face visível a olho nu.

Um país que enfrenta uma pandemia é terra quase tão atingida como  o Japão após os bombardeios nucleares e a Alemanha ao término da Segunda Guerra Mundial. Quase. Não chega a tanto porque entre nós não há destruição de cidades como aconteceu por lá.

A voz do líder transmite confiança, sua mão é suficientemente forte para levantar e sacudir seu povo. Foi assim com Charles De Gaulle na França  arruinada. com Konrad Adenauer na Alemanha aos escombros, com David Ben-Gurion – um dos pais de Israel, com Jk e outros estadistas mundo afora. Bolsonaro não chega a tanto.

Quando votei em Bolsonaro o fiz por força do cenário nacional em degradação. Creio que ninguém imaginava que mais dia menos dia enfrentaríamos algo como o coronavírus. Não posso criticá-lo por seus tropeções verbais, escorregões comportamentais e pelo destempero de seus filhos. Isso não é novidade. Porém, devo compreendê-lo. Avalio que ele esteja um passo à frente do máximo que um governante na Presidência poderia fazer agora pelo Brasil diante do oportunismo politiqueiro quase generalizado e da indolência social em mão única caminhando sempre rumo aos direitos adquiridos.

Creio, que não seja fácil a adoção de medidas amargas nessa terra ultimamente caracterizada pelo excesso de direitos adquiridos, e que de uma hora para outra se transformou num berço de professores de Deus, de contestadores e outras figuras de comprovada acidez nas redes sociais – no plano nacional – e que até então não abriam a boca para nada. Parece-me, sem ofensa a quem quer que seja, cachorro que sempre foi acorrentado e que consegue se livrar da coleira e sai em desabalada sem saber pra onde vai.

Leigo que sou, observo o que acontece nacionalmente. Não me atrevo a sugerir nas redes sociais o que deve ou não ser feito pelo presidente nem me sinto capaz de julgar seus atos. Apenas os respeito. Reconheço minha limitação para tanto e, também, não me sentiria confortável debatendo no segundo andar da territorialidade deixando de lado nossa dura realidade doméstica.

Não censuro o debate nacional, mas opto pelos temas regionais. Lamento a ausência da Imprensa no tocante a inoperância do governador Mauro Mendes no enfrentamento do coronavírus. Vejo com pesar o estilo da cobertura da pandemia em sua amplitude. Diante da omissão do jornalismo sobre o cenário em Mato Grosso, posto  uma série diferenciada no site blogdoeduardogomes com chamadas no grupo de WhatsApp que leva seu nome.

Não espero significativa manifestação sobre a série por se tratar de um texto que questiona o cerne do poder mato-grossense. Compreendo bem o prudente e comportado silêncio sobre o tema. Independentemente ou não de incentivo ou de reconhecimento público a levo adiante. Se não o fizesse jogaria por terra meu histórico jornalístico. Não saberia dizer se a mesma tem abrangência ou influência, mas sinto que cumpro meu dever.

Quanto ao debate nacional, nada mais a comentar. Sobre minha opção de voto por Bolsonaro seria repetitivo voltar ao tema. Fico com Mato Grosso e seus problemas, permaneço focalizando essa terra tão abençoada e generosa onde nasceram meus filhos Agenor e Eduardinho, e minha neta Ana Júlia.

Pouco me importa se prego no deserto, pois maior que o silêncio aqui reinante para não se indispor com o poder político é esse abençoado solo e sua gente – que merecem respeito e o máximo do empenho jornalístico em sua defesa.

Enquanto a bravata prossegue nas redes sociais com assuntos além de nossas divisas e a Imprensa pisa em ovos para não ferir o proder estadual, levo adiante meu texto. Se fizesse silêncio não me sentiria confortável e teria que quebrar meu espelho.

Que Deus não cesse de amparar Mato Grosso, ora tão à deriva parlamentar e administrativamente enquanto a ameaça ronda e o silêncio quase coletivo entoa a inaudível, mas bem perceptível canção da submissão e da conivência.

 

Eduardo Gomes de Andrade – jornalista

eduardogomes.ega@gmail.com

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