PCdoB é inimigo nacional e amigo estadual do agro

Tom agressivo. Ataques no campo pessoal e no âmbito familiar. Humor mórbido. Imputações de crimes. Denúncias as mais diversas. Assim se comportam nas redes sociais a direita e a esquerda em Mato Grosso, quando o ódio é destilado a figuras nacionais. Os ditos comunistas se enfurecem contra os que chamam de golpistas e nazistas, representados principalmente pelo presidente Jair Bolsonaro e os ministros Sérgio Moro, Paulo Guedes e Damares Alves. Os que se rotulam democratas desancam os ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff juntamente com outras figuras importantes que não militam em Mato Grosso, além do PT, PCdoB, CUT e o MST.
Quem acompanha a verdadeira briga de foices no escuro desses mato-grossenses no plano nacional é levado a imaginar que na Terra de Rondon não haja sequer um minuto para trégua entre tais antagonistas. Porém, aqui, onde não faltam escândalos, a regra é silêncio e submissão, como se vivéssemos num verdadeiro mar de rosas garantido pela seriedade no trato do erário público; pelo respeito ao meio ambiente; pelo ordenamento agrário; pela qualidade na prestação de serviço público; pelo desempenho, seriedade e independência da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Contas do Estado e da Câmara de Cuiabá; pela competência administrativa do governador democrata Mauro Mendes; pelas ações sociais desenvolvidas pelo baronato da soja etc.
Nas redes sociais para atacar figuras fora de Mato Grosso, os nervos estão à flor da pele. Aqui, reina a cordialidade. Longe de presenciar a chamada luta de classes, vejo a harmonia doméstica da esquerda com a direita. Não pode haver sentimento de ódio da cintura pra cima, e de paz da cintura aos pés – e não temos homem-sereia!
Enquanto jornalista acompanho eventos para discussão do agronegócio. Neles, figuras da esquerda mostram o agro como atividade satanizada, defendem o fim da Lei Kandir, pedem aumento de alíquotas tributária e a criação de novos impostos, inclusive para taxação das grandes fortunas. Fora deles impera o silêncio.
Também pela profissão, cobri muitos encontros e seminários sobre a questão indígena. Não faltam vozes defendendo a expansão das reservas sob tutela da Funai, a criação de novas e o estabelecimento de uma larga faixa de amortecimento ambiental.
Quantas figuras com camisetas temáticas de Che Guevara e empunhando bandeiras da CUT, MST, PT, PCdoB e Sintep vi em minha trajetória profissional, em inflamadas reuniões por todos os cantos de Mato Grosso clamando por reforma agrária e nova política de uso do solo?
– Muitas, diria.
Onde estão as vozes que entre quatro paredes, ao largo e em passeatas clamam tanto contra a direita, sobretudo contra o agro mato-grossense?
– Boa a pergunta. Parte dela, representada pelo PCdoB, está no colo político do agro. No tocante ao PT é até compreensível que ela esteja calada. Afinal, o recente governo de Silval Barbosa (2010/14), considerado o mais corrupto de Mato Grosso em todos os tempos, foi recheado pelos seguidores de Lula da Silva, em todas as esferas, inclusive no secretariado que contou com o ex-deputado federal Ságuas Moraes e a deputada federal Rosa Neide; o PCdoB também deixou marcas naquela administração, mas em escala bem menor.
Os destemidos comunistas que não poupam o presidente Jair Bolsonaro são os mesmos que conseguem enxergar virttudes políticas numa chapa que concorre ao Senado em eleição suplementar e que tem em sua composição o candidato a senador Otaviano Pivetta (PDT) e a primeiro suplente Adilton Sachetti (Republicanos), que são dois dos maiores barões da soja em Mato Grosso.
É o dilema do biscoito Tostines. O comunista enche a boca contra o satanizado agro em todos os eventos e quando chega a eleição pula em seu colo. Pula conscientemente, por pura opção, pois a disputa em curso lhe oferecia (antes das convenções) a oportunidade para a formação de uma frente de centro-esquerda com o PT e outros partidos, para o enfrentamento tão vulgarmente propalado nas redes sociais contra o capital e a direita na amplitude nacional. Quanta hipocrisia.
Cito PCdoB e PT e excluo o PSOL, pois em Mato Grosso nunca vi integrantes desse partido participarem de atos de protesto, reivindicarem em defesa da população, assumirem bandeiras tipicamente de esquerda. Personalizado pelo eterno candidato a tudo Procurador Mauro, o PSOL é um arremedo partidário sempre disposto a rachar a esquerda – o que faz a alegria dos coronéis politicos de direita. Desqualifico o Procurador Mauro enquanto candidato ao Senado, por sua forma oportunista que o deixa na sombra um ano e nove meses e o ressurge nos 90 dias do período eleitoral.
Volto ao PCdoB e ao PT. Anbos, por vários de seus filiados e simpatizantes estão em cena amarrotando o presidente Jair Bolsonaro num duelo virtual com figuras carimbadas da direita – que defendem o chefe da Nação – , que nem sempre ostentam um histórico de dignidade quer seja por suas condutas quer pelas ligações que tiveram com tradicionais corruptos mato-grossenses.
Avalio que o divórcio político do PCdoB com o PT para a eleição suplementar ao Senado ajudará a mantê-los por mais tempo ainda longe do poder em Mato Grosso. O discurso gosmento nacional de seus membros não interessa ao mato-grossense que não tem atrelamento com esse ou aquele partido, e que apenas busca qualidade de vida, desenvolvimento e justiça social.
Feliz é o agro que ganha um aliado comunista na figura do PCdoB. Avalio que votando em Pivetta o comunista acerta na escolha, pois o tenho na condição de excelente administrador público, hábil articulador político e parlamentar objetivo. Digo isso com base na minha concepção de direita, a mesma que em 2018 me fez eleitor do presidente Jair Bolsonaro e dos candidatos ao Senado Selma Arruda e Adilton Sachetti.
No grupo de WhatsApp O Brigadeiro, administrado pelo jornalista Rodrigo Rodrigues – que generosamente lhe deu tal nome em homenagem ao apelido carinhoso que ganhei de colegas de Redação – fui duramente questionado por dois colegas, por conta de uma nota hilária e com dupla intenção, que ali postei sobre o casório do PCdoB com Pivetta. Respeito o posicionamento deles, e nota humorística à parte, a coligação dos comunistas com o agro mato-grossense não tem nada de humor. Pra ser generoso diria que se trata na crença da conversão dos produtores rurais em burocratas nomeados para funções aspônicas; com menor intensidade de compreensão avalio que seja oportunismo; e no pior dos cenários, que se trata da venda de consciência ou algo que seja considerado análogo a ela.
Histórico, o PCdoB se apresentou eleitoralmente a Mato Grosso em 2004 com a eleição de Zózimo Chaparral para prefeito de Barra do Garças, mas o que seria uma vitrine política se transformou em verdadeiro caso de polícia. Em 2014 o partido novamente teve a oportunidade de consolidar espaço mato-grossense ao conquistar a segunda suplência do senador liberal Wellington Fagundes com o professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), doutor Manoel Motta. É sabido que os comunistas, àquela época, jamais conquistariam o Senado, mas inteligentemente chegaram a um suplência, porém não souberam traduzi-la em ferramenta para abertura de novos espaços. Uma lástima para eles!
Respeito e admiro filiados do PCdoB e, dentre eles cito o presidente regional, o professor Sérgio Negri; Manoel Motta; o vereador Sílvio Negri (da minha Rondonópolis); o professor Olírio de Souza, o servidor dos Correios, César Delgado; o oficial de Justiça da Justiça Federal, Miranda Muniz; o ilustrador e chargista Brás Rubson; a ex-reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavalli; e tantos outros. Porém, nem esse respeito e essa admiração me levam a entender a vergonhosa e humilhante coligação dos comunistas com o agro, na terra – literalmente na terra – dos barões da soja, que a militância desvairada ataca nacionalmente nas redes sociais.
PCdoB e PT de costas um para o outro na eleição suplementar ao Senado é o começo do rito fúnebre eleitoral de ambos em outubro, quando Mato Grosso elegerá 141 prefeitos e seus vice-prefeitos, e 2.406 vereadores nesse Estado onde a força econômica é movida pelo agro, ao qual o PCdoB não poderá criticar por ser seu aliado e sobre o qual o PT terá que ficar calado, por seu histórico de adesão ao poder tão bem dominado pelo baronato da soja.
A trajetória do PCdoB e do PT vai muito além da eleição suplementar e eles caminharão lado a lado amargando a incompetência do individualismo que não leva a lugar nenhum. Que jornalistas a eles ligados continuem criticando colegas por mostrarem a verdade que mesmo enxergando eles teimam em desconsiderar, o que reforça o refrão popular: o pior cedo é aquele que não quer ver.
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Meramente ilustrativa
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