MT-110 – Tesouro e um asfalto pra chamar de seu

É um importante passo pra logística de transporte do município. Afinal, o asfalto da MT-110 chega a Tesouro. Mas, falta muito pra se alcançar o objetivo da população tesourense: a pavimentação ligando Alto Garças à rodovia BR-070 cruzando Guiratinga e aquela cidade. Sonho à parte os prefeitos Antônio Leite/MDB (Tesouro) e Humberto Bolinha/PSDB (Guiratinga) estão em estado de graça com o pavimento cobrinho a extensão de 42 quilômetros que separa as duas cidades e que por décadas foi importante rota nacional de escoamento de diamante, ora pelo canudo de poeira no verão e ora pelo atoleiro sem fim no inverno amazônico.

Antonio Leite e Humberto Bolinha contam as horas para o simbólico corte da fita da obra que une seus municípios e que atravessou os governos de Silval Barbosa (2010/14) e Pedro Taques (2015/18). Nesta sexta-feira, 20 – e praticamente o últmo dia útil do ano na esfera pública em Mato Grosso – o governador democrata Mauro Mendes oficializa a entrega da MT-110 aos usuários.
Com o asfalto Tesouro sai da incômoda lista dos municípios de Mato Grosso sem acesso pavimentado e deixa de ser a única cidade do polo de Rondonópolis nessa situação.
A obra interliga por asfalto a cidade de Tesouro ao terminal ferroviário da Rumo ALL em Rondonópolis, distante 175 quilômetros via Guiratinga – distância considerada curta para os padrões da logística de transporte mato-grossense. Para o agronegócio, onde o município se desponta com o cultivo de lavouras no cerrado, é uma maravilha, mas nem somente do agro vivem as cidades. Em suma, Os tesourenses agora se encontram a 150 quilômetros de Rondonópolis, que é uma importante metrópole regional.

A conquista da obra não foi fácil. Em 21 de junho de 2012 após aprovação pela Assembleia Legislativa, o governador Silval Barbosa sancionou uma lei oriunda de um projeto de sua autoria criando o programa rodoviário Mato Grosso Integrado, Sustentável e Competitivo (MT Integrado), que previa a pavimentação de 2.100 quilômetros de rodovias em todas as regiões, para assegurar ao menos um acesso pavimentado a 44 municípios fora da malha rodoviária pavimentada. Os recursos para tanto, R$ 1,5 bilhão, seriam assegurados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para serem pagos em 12 anos, com 24 meses de carência.

Mesmo prevendo interligar todos os municípios à malha rodoviária pavimentada, o trecho da MT-110 entre Guiratinga e Tesouro não era contemplado. Estranho! Discordando dessa atipicidade, o então deputado federal e agora senador Wellington Fagundes (PL) e o à época deputado estadual Hermínio Barreto discordaram da distorção. Por pressão política o município foi incluído ao MT Integrado. Na verdade, o governo relacionava Tesouro, mas sequer havia projeto para a execução da obra, que seria postergada a exemplo de tantas outras.
Silval atendeu Wellington e Barreto. Saiu o projeto da pavimentação, mas a obra permanecia na gaveta. O governador Pedro Taques sucedeu Silval e mudou o nome do MT Integrado para Pró-Estradas, mas não alterou o planejamento das obras.
Taques lançou a pavimentação entre Guiratinga e Tesouro, e a iniciou. Mas, a exemplo de tantas outras, a mesma não prosseguiu. Mauro Mendes substituiu seu ex-aliado Taques e concluiu a obra.
De ponta a ponta

Antônio Leite comemora a interligação de sua cidade à malha rodoviária pavimentada, mas quer mais. O prefeito de Tesouro puxa o coro por algo maior: o asfalto ligando Alto Garças à BR-070.
Que obra seria essa?
Caso seja pavimentada de ponta a ponta, a rodovia MT-110 criará uma estratégica rota entre o terminal ferroviário da Rumo ALL em Alto Araguaia, e Barra do Garças. Para tanto será preciso pavimentar 164 quilômetros, sendo 94 quilômetros entre Alto Garças e Guiratinga, e 70 quilômetros no trecho de Tesouro à BR-070. A rodovia BR-70 liga Cuiabá a Barra do Garças. “Precisamos ligar a BR-364, em Alto Garças, ao eixo da BR-070 em General Carneiro”, observa Antônio Leite, salientando que essa obra também contemplará a distrito de Batovi
Pra se consolidar essa rota será preciso que se pavimente 164 quilômetros. Ao longo dessa rodovia Mato Grosso dá banho de produção e produtividade agrícola. A movimentação de veículos leves e pesados, segundo Antônio Leite, justifica a obra.
Tesouro do diamante ao asfalto
Tesouro é um dos principais exemplos urbanos do ciclo do diamante em Mato Grosso.
No prolongado ciclo do diamante, que se arrastou por um século e que se encerrou em meados dos anos 1990, a cidade e os distritos de Batovi e Cassununga fervilhavam de garimpeiros, prostitutas e capangueiros (compradores de diamantes). Apesar da população flutuante que segue a esteira do garimpo, era baixo o índice de violência. Ainda assim, em 1936, um fato isolado e de triste memória cobriu de sangue um dos cabarés da cidade. Um soldado destacado em Tesouro e que teria se sentido ofendido por uma prostituta foi ao comando da Polícia Militar, em Cuiabá, e retornou integrando uma soldadesca comandada por um tenente. A reação dos policiais em desagravo ao companheiro de farda foi trágica: na calada da noite o prostíbulo foi cercado pela tropa, invadido e, em seguida, as mulheres, funcionários e frequentadores foram fuzilados. Há quem afirme que alguns escaparam fingindo-se de mortos e, que outros, foram sepultados ainda vivos. Não se sabe ao certo o número de vítimas; fala-se 45 execuções. Da mesma forma, desconhece-se o nome do oficial que comandou a ação.
A casa e palco da tragédia foi demolida. Em seu lugar surgiram outras duas, divididas por uma parede. Um desses imóveis pertence ao comerciante e comprador de diamantes João Moreno Lima, nascido no município de Manga, no Norte de Minas Gerais e morador antigo. Moreno é figura das mais respeitadas no lugar, conhece como ninguém seu passado e tem o hobby de colecionar materiais fossilizados.

No apogeu do diamante a elite de Tesouro dominava a economia da região e impunha vontades. As festas religiosas duravam dias, bailes se arrastavam de sexta a segunda-feira. Piso de bares e cabarés eram literalmente lavados com cerveja, revelou certa vez Isidoro Abílio de Moraes, um dos primeiros pilotos a voar na região. Foi assim, em nome da opulência e para externar sua riqueza, que em 1933, o dono de garimpos, comprador de diamantes e coronel de patente comprada Galdino de Carvalho mandou buscar músicos na Bahia, para formar uma banda na vila de Cassununga. Um dos instrumentistas recrutados era Marinho de Oliveira Franco, nascido em Lençóis (BA).
Tempos depois, Marinho Franco – de saudosa memória – se transformaria no maestro e dono do conjunto Marinho e Seus Beats Boys, de Rondonópolis, cidade que reverencia sua memória com a Rua Marinho Franco, no bairro Jardim Cuiabá, e com o Aeroporto Maestro Marinho Franco, que opera jatos comerciais e voos noturnos.
HOJE – Tesouro tem 3.805 habitantes. O município pertence ao polo de Rondonópolis, na calha dos rios Garças e Batovi, da Bacia do Araguaia, na Comara e circunscrição da 2ª Zona Eleitoral de Guiratinga, com a cidade localizada a 360 quilômetros de Cuiabá.
O município de Tesouro faz limites com Guiratinga, Poxoréu, General Carneiro e Pontal do Araguaia. Sua renda per capita é de R$ 30.462,01 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,759 numa escala de zero a um (a média dos municípios de Mato Grosso é de 0,773).
A cidade situa-se a 400 metros acima do nível do mar, à margem do rio Garças e na barra de seu afluente Cassununga. O município tem 4.285,710 km² e emancipou-se de Guiratinga em 10 de dezembro de 1953.
MEMÓRIA: em 1897, o garimpeiro de diamantes Antônio Cândido de Carvalho iniciou o processo de urbanização da região que mais tarde seria o município de Tesouro, que à época pertencia a Santa Rita do Araguaya (atual Alto Araguaia).
GUILHOTINA – Tesouro é um dos 34 municípios de Mato Grosso com menos de 5 mil habitantes e na mira da PEC do Pacto Federativo, que prevê a extinção dos mesmos e de mais de outros mil Brasil afora. Antònio Leite aposta na sobrevivência. Acredita que a conquista do asfalto e o avanço do agronegócio aumentarão a população em pouco tempo e que o número de moradores superará a exigência da PEC. Mais: o prefeito não acredita que tal proposta avance no Congresso.
INAUGURAÇÃO – Humberto Bolinha e Antônio Leite receberão para a inauguração um grupo de políticos formado por Mauro Mendes, Wellington Fagundes; os deputados estaduais Nininho (PSD), Delegado Claudinei (PSL),Sebastdião Rezende (PSC), Thiago Silva (MDB) e Max Russi (PSB); deputado federal José Medeiros (Pode); presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios, Neurilan Fraga; e secretários de Estado.
Redação blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 e 2 – Secom – Site público de divulgação do Governo de Mato Grosso
3 – Agência Senado
4 e 6 – blogdoeduardogomes em arquivo
5 – Enock Cavalcanti em arquivo
7 – Álbum de Família
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