Somos todos Jarudore!

Lamentavelmente o Governo de Mato Grosso não tem responsabilidade social; a Assembleia Legislativa, também, não. Isso está bem cristalizado no tocante a Jarudore, distrito de Poxoréu, que tem uma área com 4.706 hectares alvo de uma Ação Civil Pública que desde 25 de junho de 2006 pede sua entrega aos índios bororos. Governantes e legisladores estaduais ao longo dos últimos 13 anos fizeram vistas grossas a essa questão.
No próximo dia 20, se o Tribunal Regional Federal da 1ª Região não conceder efeito suspensivo à ordem de desintrusão de parte da área citada, famílias serão jogadas ao léu, por ordem da Justiça Federal em Rondonópolis.
Deixemos de lado a questão judicial. Deixemos! Deixemos porque o foco deste texto é a incapacidade administrativa e a insensibilidade dos governadores do período, a começar por Blairo Maggi, passando por Silval Barbosa e Pedro Taques, até Mauro Mendes – sem exclui-lo.
Transcorridos 13 anos do ajuizamento da ação, Mato Grosso não tem nenhuma resposta social e agrária aos ocupantes da área. Não se trata de amparar grileiros ou invasores, nada disso. Trata-se da criação de uma política preventiva para – eventualmente, se a situação assim exigir – estender a mão do Estado a trabalhadores que há gerações se sucedem no campo e na área urbana de Jarudore, região que nunca foi aldeamento indígena e que surgiu há 74 anos no entorno de uma estação telegráfica à margem do rio Vermelho, como parte da política de interiorização nacional.
Blairo, Silval, Pedro Taques e Mauro Mendes ou não souberam, ou não quiserem implementar uma política agrária preventiva para evitar que se repita com mais mato-grossenses, o que aconteceu em 2012 em Estrela do Araguaia – que era mais conhecida por Posto da Mata – onde milhares foram jogados ao relento depois que suas casas foram demolidas, suas escolas destruídas, seu posto de saúde virou escombros, suas igrejas foram transformadas em monturos. Esses quatro governantes, sem visão, sem compromisso com a parcela mais frágil da população, lavaram as mãos sobre o tétrico amanhá que na curva do tempo espera por Jarudore, tanto quanto esperou ontem por Posto da Mata – e arma o bote sobre Nova Nazaré e Tabaporã.
Na barranca do rio Vermelho, num ponto equidistante entre Rondonópolis e Poxoréu, 1.650 brasileiros esperam a pesada mão do Estado Brasileiro que arrancará de suas casas, parte de seus integrantes, por conta de uma decisão judicial de primeira instância que cria a figura do fatiamento de Jarudore, de modo a expurgar parceladamente seus habitantes sem despertar comoção nacional.
A causa indígena tem simpatizantes até mesmo entre os que desconhecem as razões no caso a caso. Quem conhece a realidade sobre Jarudore? Independentemente de conhecimento ou não, muitos querem a cabeça de suas crianças, idosos, portadores de necessidades especiais, trabalhadores de mãos calejadas, mães, avós, bisavós.
No pouco tempo que resta antes do começo da desintrusão – que dificilmente será revertida – a classe política está calada – quem sabe se borrando de medo do Ministério Público Federal, que juntamente com a Funai presta esse desserviço ao Brasil. A Imprensa nada diz. Onde está Mato Grosso às vésperas dessa tragédia anunciada? Diria que no mesmo e cômodo lugar onde se encontrava quando Posto da Mata foi destruída numa verdadeira operação de guerra.
Fico com Jarudore. Fico porque ao lado daquela gente está a razão, está o papel por ela desempenhado na interiorização nacional no momento em que mais o Brasil precisava. Sou voto vencido no âmbito da Imprensa, que opta pelo noticiário da superficialidade política no perímetro entre o Trevo do Lagarto e o Coxipó da Ponte. Fico por solidariedade humana. Fico por sentimento de nacionalidade.
Que Deus conforte a população de Jarudore, tão abandonada, tão vista com ressalvas por tantos que usufruem benesses do poder. Avalio que estamos a um passo de nova diáspora em Mato Grosso. Que os atingidos por essa decisão não baixem a cabeça, que olhem sempre para frente por mais difícil que seja o caminho, o caminhar. Que nenhuma das vítimas em Jarudore dobre a coluna – por maior que seja a dor – para que não se nivelem aos silenciosos que têm rabo preso e os seus comensais. A comunidade criada por seu patrono e herói Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon não pode se espelhar nos coniventes com o crime que se perpetra contra ela.
Sugiro que leiam neste blogdoeduardogomes o título (em busca): Faltam quatro dias pra mão pesada do Estado Brasileiro descer sobre Jarudore.
Jarudore não está hoje no noticiário. Não esteve ontem. Esse problema social não interessa ao nosso jornalismo, não é conveniente aos políticos. É tema pra ser tratado com seriedade, responsabilidade, com espírito genuinamente mato-grossense. Somos todos Jarudore!
Eduardo Gomes de Andrade – Editor de blogdoeduardogomes
FOTO: blogdoeduardogomes
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